sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

FRED TAG (SEXTA-FEIRA)



Por aqui, o horário de trabalho começa cedo (às 8 horas) e acaba cedo (às 15.30). As mães e os pais noruegueses têm uma parte significativa dos seus dias para serem pais, para proporcionar aos filhos algo mais do que um serão de televisão ou videojogos. Têm um ano de licença de maternidade e nunca ouviram falar de despedimentos por gravidez.
A riqueza que produzem nos seus trabalhos garante-lhes o maior nível salarial da Europa, que é também, desculpem-me os menos sensíveis ao argumento, o mais igualitário. Todos descontam um IRS limpo e transparente que não é depois desbaratado em rotundas e estatuária kitsh, nem em auto-estradas (só têm 200 quilómetros dessas «alavancas de progresso»), nem em Expos nem em Euros.
É tempo de os empresários portugueses constatarem que, na Noruega, a fuga ao fisco não é uma «vantagem competitiva». Aqui, o cruzamento de dados «devassa» as contas bancárias, as apólices de seguros, as propriedades móveis e imóveis e as «ofertas» de património a familiares que, em Portugal, país de gentes inventivas, garantem anonimato aos crimes e confundem os poucos olhos que se dedicam ao combate à fraude económica.
Mais do que os costumeiros «bons negócios», deviam os empresários portugueses pôr os olhos naquilo que a Noruega tem para nos ensinar. E, já agora, aos políticos.

Os ministros noruegueses não se medem pelas gravatas, nem pela alta cilindrada das suas frotas automóveis. Pelo contrário, andam de metro e não se ofendem quando os tratamos por tu. Em Portugal, cada ministério faz uso de dezenas de carros topo de gama, com vidros fumados para não dar lastro às ideias de transparência dos cidadãos. Os ministros portugueses fazem-se preceder de batedores motorizados, poluem o ambiente, dão maus exemplos e gastam a rodos o dinheiro que escasseia para assuntos verdadeiramente importantes.
Mais: os noruegueses sabem que não se projecta o nome do país com despesismos faraónicos, basta ser-se sensato e fazer da gestão das contas públicas um exercício de ética e responsabilidade. Arafat e Rabin assinaram um tratado de paz em Oslo. E, que se saiba, não foi preciso desbaratarem milhões de contos para que o nome da capital norueguesa corresse mundo por uma boa causa.
Até os clubes de futebol noruegueses, que pedem meças aos seus congéneres lusos em competições internacionais, nunca precisaram de pagar aos seus jogadores 400 salários mínimos por mês para que estes joguem à bola.

Nestas gélidas terras dos vikings, conheço empresários portugueses que aqui montaram negócios florescentes. Um deles, isolado numa ilha acima do círculo polar Árctico, deixa elogios rasgados à social-democracia nórdica, ao tempo para viver e à segurança social.

Claro que por aqui também há patos-bravos. Mas para os vermos só precisamos de apontar os binóculos para o céu para vê-los em bandos barulhentos e coloridos. Não andam de jipe nem de óculos escuros. Não clamam por messias nem por prebendas. Não se queixam do excessivo peso do Estado, para depois exigirem isenções e subsídios.

É tempo de aprendermos que os bárbaros somos nós.

Quem me dera que Portugal fosse assim.

Mas infelizmente Portugal caíu num poço.

Os escândalos são o pão nosso de cada dia.

Já não há volta a dar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer-

Fernando Pessoa,
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