domingo, 15 de novembro de 2009

O DECOTE


Após duas semanas de trabalho intenso, com uma gripe pelo meio e um “crash” informático no meu sistema caseiro, eis-me de volta às lides bloguísticas.

Isto de ser simultaneamente administradora de uma empresa familiar, Coordenadora de quatro unidades de saúde, dar aulas e fazer voluntariado, tem muito que se lhe diga e, modéstia à parte, não é qualquer um que tem arcaboiço para tanto.

Alguma coisa terei de sacrificar e está visto que são sempre os meus tempos de lazer que se ressentem daquilo a que a maior parte dos meus amigos chama de hiperactividade e bicho carpinteiro.

Depois desta pequena introdução a explicar a minha ausência, não quero deixar de tecer aqui algumas considerações sobre a polémica que me invadiu as sms e as caixas de correio electrónico, que parece estar a dominar a incontornável cuscovilhice barreirense.

Pois bem:

Lidos os e-mails e todas as mensagens recebidas, veio-me à memória a polémica causada, há tempos, por Ângela Merkel quando foi à inauguração do novo edifício da Ópera de Oslo, estava eu ainda a trabalhar na Noruega.

Fez furor o decote arrojado da chanceler alemã: um arejado decote, a permitir a respiração cutânea de vastas partes do busto que costumam andar cuidadosamente escondidas, em pessoas da sua importância.

Talvez por falta de hábito em política – e mais quando os políticos passam a representar o povo – a seriedade é ponto de honra. E como sérias pessoas que são, os representantes de todos nós devem pautar a conduta pelo recato, evitar declarações bombásticas que rompam com a modorra estabelecida, não terem pecadilhos que entrem em rota de colisão com os “bons hábitos” consagrados pela maioria. Devem ser sóbrios na vestimenta. Tudo para não causarem má impressão na multidão que representam. É que com a má impressão pode vir atrelada a desconfiança que, como se sabe, não dá votos e impede a recondução no cargo.

O decote da chanceler alemã, conhecida pelo seu estilo recatado de saia, calça e casaco, foi alvo de vários comentários por parte da imprensa europeia.

Merkel mostrou ousadia, desviou-se de tradições bafientas e pôs a Alemanha a perorar sobre o decote que deixou à mostra as sedutoras curvas que insinuam o peito mal escondido. O peito de uma mulher que tem nas mãos os destinos da grande Alemanha.

No caso da deputada portuguesa, talvez porque somos um país de tradições católicas, não faltou uma imprensa beata a fazer escorrer escândalo das bocas pudicas dos conservadores de serviço, sempre diligentes no frete à igreja onde as suas consciências militam – já para não falar da pesporrência dos porta-vozes do seu próprio partido, quando opinam sobre comportamentos alheios, que esbarram nos padrões que a inveja fixa.

Tenho para mim que toda esta monotonia de imposição de vestes oficiais, como se fosse o fardamento obrigatório em que suas excelências ficam comprometidas, ao alcançarem o tão sério papel de representantes do povo, é uma artimanha para manter a populaça dependente de uma também monótona existência. Assim passamos ao de leve, de mansinho, adormecidos pela monotonia das personagens incapazes de tocarem no carisma. Para que tudo seja feito com a nossa complacência, afinal o produto da prostração que nos é propositadamente inoculada.

Eu diria que o gesto da portuguesa foi uma lufada de ar fresco – literalmente – no cinzentismo militante dos políticos.

Não vou dizer que eles surjam amiúde em boxers, envergando folclóricas camisas, ou elas trajando aquelas túnicas floridas que ficaram celebrizadas no Maio de 68, largas, que serviam para esconder adiposidades irrecusáveis. Isto para os meus padrões estéticos, que são apenas os meus.

Podiam, ao menos, desprender-se da maneira tão enssossa de se apresentarem em público. Eles sempre com aqueles fatinhos Armani, escuros, camisas descoloridas, gravatas monocromáticas, de tons ácidos, que compõem um conjunto onde apenas se destaca a monotonia. E elas, também, no insípido tailleur senhoril, com a malinha a preceito, muito Maria de Belém, a antiga ministra da saúde socialista.

Não sei se foi espontâneo, ou se foi um acto de calculismo: a deputada portuguesa, assim tão decotada, foi muito mais vanguardista. Discretamente, uma bomba sexual. A prova como pequenos gestos, discretos sinais, fazem mais pela tão sagrada imagem de um político do que o espalhafato e a espectacularidade de uma campanha a favor do que quer que seja.

Sugiro que a 'moda' dos decotes seja adoptada em Portugal. Por cá, com decotes, teríamos uma Legislativas e umas Autárquicas muito mais animadas e interessantes, com os eleitores masculinos a comparecer em massa .

Estou a imaginar cartazes decotados de Manuela Ferreira Leite, Joana Amaral Dias, Inês de Medeiros, Berta Cabral, Maria José Nogueira Pinto, Teresa Caeiro, Elisa Ferreira, Ana Gomes, Fátima Felgueiras, Ana Drago, Zélia Silva, Sofia Martins e Regina Janeiro .

A fealdade exige o recato, a discreta e monótona vestimenta a esconder a falta de beleza corporal. Para essas – e, olhando à arena política caseira, tantas há entre a multidão de senhoris socialistas – o melhor é que continuem assexuadas personagens, como se lhes fosse aconselhado, simbolicamente, uma burka a cobri-las da cabeça aos pés.

Considero-me uma pessoa justa e hoje fico-me por aqui, para não ferir susceptibilidades.

O que vale é que dizem que o PIB já está a crescer...

15 comentários:

Anónimo disse...

Você é muito eloquente e uma boa tribuna.

Escreve muito bem.

Estranho que tenha deixado de escrever no rostos. Gostava muito de a ler. Acho que muita gente gosta de a ler.

Os seus textos tinham sempre uma história para além deles.

Anónimo disse...

Esquisito e estranho este texto. Direi mais: muito estranho e muito esquisito este texto, vindo da Verdadeira.

Curioso, esquisito e estranho é ser escrito semanas após de a terem ameaçado que lhe partiam as pernas.

Resultou !!!!

Cautelas e caldos de galinha ...

Porque quem tem cú tem medo ...

É assim mesmo valente e destemida Verdadeira. E é como disse o outro - "Só os burros é que não mudam".

Tenho dito.

Flor disse...

Respondendo ao anónimo das 3:35 (madrugou), agora tenho muitissimo pouco tempo livre, se é que se pode dizer assim.
Como colaboro noutros jornais, não tenho tido tempo para "chegar" a todos.
Obrigada pela apreciação que fas dos meus textos.
Vou tentar mandar um para o Rostos, em breve.

Cumprimentos.

Flor disse...

O "fas" foi gralha. Queria escrever "faz".

tezita disse...

SABEI SENHORES QUE ENQUANTO O DECOTE VAI E VEM O VARA DESCANSA !

KIRA disse...

viva mecinha!
parece que o barreiro parou enquanto esteve ausente.basta ver o número de visitantes deste blog!
bem vinda.

Maria um pouco barreirense disse...

A temática das mamas já produziu mais comentários que os Varas, O Freeport etc. Já escrevi a minha opinião num outro post. embora ache que o decote é um pouco exagerado, não é para se exigir que a senhora se demita,nem para fazer do facto manchete de jornais, ou será que esses senhores que assim se expressam queriam era ficar com o tacho?

Senhora Verdadeira concordo com o anónimo das 3.35. Em que jornais é que escreve?

Anónimo disse...

Minha querida Verdadeira, o Barreiro não está habituado a lidar com a justiça, a isenção, a ética.
Você demonstrou ser uma pessoa de convicções, acima de quaisquer questiunculas pessoais, com um grande sentido de ética.

Aqui quando querem dizer mal, fazem-no simplesmente por inveja ou por outra coisa qualquer.

A Senhora consegue ser isenta e fazer a apreciação dos factos, de acordo e à luz de uma consciência sublime.

Já me tinham dito que a verdadeira era uma pessoa justa e com elevado sentido de ética.

Ao ler o seu texto, fiquei com a certeza disso mesmo.
Consegue afastar-se das questões pessoais para fazer ressaltar o que deve ser.

Gostei de ler.

Anónimo disse...

A Verdadeira defende a outra porque no Verão passado andou a fazer topless nas praias do alentejo.
No Barreiro há quem tenha fotos dela na Zambujeira do Mar em topless, muito bem feita, com as maminhas direitas e a barriguinha espalmada.
Por isso ela defende a deputada.

Anónimo disse...

a Verdadeira tem razão.
a questão que se põe, em relação à Sofia cabral, é que cada um é livre de usar o que quiser. Pertence à esfera pessoal.
Deixemo-nos de falsas moralidades.

Anónimo disse...

Admiro esta Verdadeira.

Dantes não gostava dela mas agora sei que é uma pessoa que sabe avaliar as questões, independentemente de tricas pessoais.

Vivam as mamas da deputada!

Anónimo disse...

O anónimo de 15 Novembro 10:53 é daqueles que quer que os outros batam por ele, para ficar a observar.

A Senhora Verdadeira surpreendeu tudo e todos, porque é uma pessoa com um alto sentido crítico.
Embora a deputada não o mereça, a Verdadeira quis dizer com o seu texto, que uma coisa são as questões pessoais e outra coisa é o que se passa ao nível institucional.
Concordo com ela. Se não existe Regulamento sobre como vestir na AR, cada um é livre de usar o que muito bem entende.
Claro que o decote foi um pouco exagerado a roçar o vulgar, mas se ela se sentiu bem assim vestida, quem somos nós para criticar?

Nota 100 para a Verdadeira.

Anónimo disse...

Este texto da Verdadeira, todo ele transpira ironia.

Um tipo de ironia inteligente, que dá para os dois lados.

Caberá a cada um interpretar.

Gosto dela, por isso mesmo.
É imprevisível mas incisiva.

Anónimo disse...

Não percebeste mesmo nada, anónimo de 15 de Novembro 10:53.

Anónimo disse...

Percebi, percebi e há muito tempo.

Com essa "teoria das ambiguidades", a Verdadeira e outras "verdadeiras" e "verdadeiros" se vão safando ...

E todos continuam felizes e contentes. Cantando e rindo.

Siga o "espectáculo" ... Até um dia.