segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ROSTOS.PT UM ARTIGO DO DR.CARLOS ALBERTO CORREIA


Igreja do Lavradio – uma falhada sistina?
Por Carlos Alberto Correia
BARREIRO

Afinal, a inauguração do quadro, que deveria ocorrer no próximo dia 8 de Dezembro, inscrita num cerimonial mais vastos, com ordenação de padre e presença de Bispo, já não iria acontecer. Porquê? Porque os bons padres se negaram a pagar o trabalho e pretendiam que o mesmo fosse oferecido à Igreja.

Na passada sexta-feira, no almoço da Tertúlia do Pato Bravo, comentava com o Nuno Banza e o Sousa Pereira, o quadro sobre a Paixão de Cristo, encomendado pela Igreja do Lavradio ao Pintor Kira. Dizia eu que aquela tela haveria de fazer história. Para tal baseava-me na concepção da obra, a qual, apesar de algumas servidões ao gosto litúrgico, impostas pelos encomendadores do quadro, arrojava-se, nas figuras que acompanhavam a morte de Cristo, a representações pouco ortodoxas e, por isso mesmo, fortes e demonstrativas da compunção e tristeza gerais acarretadas pela morte do Filho do Homem.

Era baseado na iconoclastia destas figura, que o meu comentário, no citado almoço, apontava para um atribulado caminho para esta obra. Só não pensava que, naquele mesmo momento, essa história já tinha começado. Soube-o pelo Blogues Pintor Kira e Poleiro Pá. Afinal, a inauguração do quadro, que deveria ocorrer no próximo dia 8 de Dezembro, inscrita num cerimonial mais vastos, com ordenação de padre e presença de Bispo, já não iria acontecer. Porquê? Porque os bons padres se negaram a pagar o trabalho e pretendiam que o mesmo fosse oferecido à Igreja. Achei esta atitude abusiva e pretendi saber a verdade dos factos. Para tal nada melhor que perguntar ao Pintor como este desencontro tinha sido possível.

Segue-se, resumidamente, a história.

De há uns cinco anos a esta parte o Kira vinha a ser solicitado para fazer um quadro para a Igreja do Lavradio. Dada a sua orientação artística não ser a da arte sacra foi adiando a questão até que, este ano, por maior insistência decidiu anuir ao pedido. Foi-lhe então encomendada a execução de dois quadros, uma crucifixão com as dimensões de 3 metros X 2 metros, para a Igreja e um outro de 2 metrosX2 metros para o baptistério. Perante a monumentalidade da obra o pintor comunicou aos padres não ter dinheiro suficiente para comprar as telas. Do então argumentado ficou patente que a Igreja adiantaria o dinheiro para os materiais e que o pintor faria depois um “preço para amigos”. Acertadas as coisas recebeu o custo da tela maior e começou o trabalho pagando, do próprio bolso, algumas centenas de euros para os restantes materiais. Durante os seis meses que durou a concepção e concretização da obra não foi possível ao pintor pegar em qualquer outro trabalho. Os padres sabiam disso pois não só foram acompanhando a feitura da obra como requereram algumas modificações. Mais, sugeriram ainda que fosse pensando numa Via Sacra para a Igreja. Ora a Via Sacra é composta por 15 estações, o que significava a elaboração de quinze pinturas alusivas, todas de grande porte. Quase dava, com ironia e pelo tempo necessário a tal consecução, para que se assinasse um contrato de trabalho a muito longo termo. Estas questões foram ganhando, pelo que agora se entende, uma estranha ambiguidade. Assim, para o Kira o trabalho seria remunerado com um preço a combinar, para além dos custos dos materiais. Para os bons padres o trabalho seria suficientemente remunerado com o pagamento da tela (esquecendo as tintas, o tempo, o trabalho e a concepção) e o sublime privilégio de tornarem o Kira numa espécie de Miguel Ângelo, mal pago, do Barreiro. Não ficou claro se o artista deveria ainda fazer um agradecimento à Igreja pelo favor de se ver espoliado do valor do seu ganha-pão

Partindo do princípio que na sua produção o pintor fará uma média de 1.500 euros por mês, só o custo do tempo de trabalho investido neste quadro seria de 9.000 euros. Com os materiais gastar-se-iam, no mínimo mais 1.500 euros, ficando (sem ter em conta a remuneração artística) o quadro em 10.500 euros. Este preço seria, em termos de mercado de arte, muito baixo para a obra apresentada. No entanto o que o Kira pediu como remuneração era tão-somente cerca de 10% deste valor. Na verdade um preço mais que de amigo. A que responderam a isto os santos homens? Que esperavam que ele fizesse a oferta das obras à Igreja, fazendo com que o ofendido e pré-espoliado artista perguntasse se iria alimentar a família com hóstias.

Com os acontecimentos nesta posição, o quadro que já estava na Igreja, foi retirado e está agora no atelier do pintor à espera do seu destino depois de o Kira, num acto de grande honestidade, ter devolvido à Igreja o dinheiro adiantado para a tela. É uma pintura de venda problemática, mais pela sua envergadura que pelo tema. Somente poderá figurar num grande salão sob risco de, em qualquer outro lugar, esmagar qualquer envolvência. Fica-me pela mente a pergunta se estamos, pela parte da Igreja, perante uma grande ingenuidade, desconhecimento do real da vida, má-fé ou ainda outros pressupostos de que é melhor não falar. Para melhor compreensão do quadro e de possíveis motivações não ditas, cito uma apreciação do mesmo feita, num comentário no Blogue Kira Pintor, pela Dr.ª Fernanda Afonso:

“Gostaria de acrescentar algo ao que tem sido dito. Parece-me que a situação o merece. Vejamos o quadro. Este representa, no plano central, o acto sacrificial de Cristo. Na base, a lateralidade das figuras mostra a unanimidade solidária com o acontecimento.
Porém, as personagens não elevam, todas, os olhos para o Senhor ou para a pomba - os padres olham-na directamente, tal como a criança (perplexa) e os homens da "urbe", e por este mesmo facto, indiciam no seu recolhimento a consciência da tragédia no Presente. E o pintor?. De frente, interpela-nos com o olhar, sendo ele o agente da denúncia: Cristo sacrificado está vivo nos dias de hoje. Não é isto uma soberba forma de olhar o sagrado?
A igreja deveria estar grata por uma compreensão tão profunda da crucificação. Não a teve. Caso contrário, honraria o pagamento devido pelas telas, pelas tintas, já que o quadro é a dádiva do pintor à Igreja de Cristo - a da tolerância. Como se acha no direito de só pagar a tela? (parece que nem todo o custo é coberto). E o restante? Não é oferta suficiente a obra de arte?
Cristo não gostaria desta atitude que mais parece de vendilhões do templo... A César o que é de César, a Cristo o que dele é, ao pintor o que se lhe deve!”

Quanto a mim, modesto e inconformado figurante na obra, limito-me a pensar que esta Igreja – parece que em crise ética - perdeu a única possibilidade de alguma vez me ter, nem que fosse deste modo, dentro, ou sobre, as paredes dos seus templos.

Carlos Alberto Correia

9 comentários:

Anónimo disse...

Saramago tem razão: "Deus não é de fiar"

KIRA disse...

deus não é mesmo de fiar! veja como escolhe alguns dos seus "empregados" por esse mundo fora!

Anónimo disse...

O Barreiro acabou.

Até os padrecos enganam os artistas.
A sucata chegou à Igreja.

Abrenúncio

vade retro

Anónimo disse...

Como o Papa vem brevemente a Portugal, sugiro ao Kira que lho ofereça.
Seria uma bofetada de luva branca aos padrecas do Barreiro.

Anónimo disse...

oferecer a obra prima ao Papa ??

kirias !!!!

Sua Santidade se quizer o quadro tem que largar o graveto


e em nota batida

que os cheques do vaticano (também) já não são de fiar

FLÁVIO TODO RÔTO disse...

Ó môre, fôfo, não pusestes lá o meu Jújú e lixastes-te.
Devias ter pintado o meu Jújú ajoelhado aos pés do Nosso Senhor, fôfo, com a gamela das hóstias ao pé.
Como faltava ele, os padres não compraram, môre.
São uns "sacristas".

KIRA disse...

oh flavinho, isso não são modos! há por aí figuras que nunca poderiam entrar naquele quadro. sei lá se, durante a noite, pisgando-se do quadro íam à caixa das esmolas, tornando a igreja mais pobrezinha!por exemplo, o meu vizinho a quem chamam o "côxo"que todos os meses é "agarrado" a roubar e passa a vida: 2 horas na esquadra e o resto do mês cá fora, anh?
não sei se o teu juju é desses. não o conheço!

Anónimo disse...

Ó Rôto, o teu júju já anda a perder cólidades.
Já não foi eleito tesoureiro das mesericórdias portuguesas, nem entrou em qualquer lista e o Presidente é agora o Provedor da santa casa de Setúbal.

Está a começar a descida vertiginosa. Cá se fazem, cá se pagam.

Anónimo disse...

santa ingenuidade....

Para o comentário do anónimo de 8 de Dezembro de 2009 22:37



uma ingenuidade que consegue ser ainda maior que a ingenuidade do kira, no acordo "divino" sobre a obra de Arte