quarta-feira, 3 de julho de 2013

EU, RICO !


Não me perguntem nada,  nem sequer como tive a sorte dos 5 números e 2 estrelas, acertadinhos  sem concorrência! Nem como vim aqui parar.
Estou  no Burjal Arab Hotel às conveniências do general manager Heinrich Morio. Um Hotel  no Dubai, 7 estrelas. Suite módica de preço 1800 euros por dormida – 5 000 tudo incluído,diária. Para já não se compara às casinhas do Duarte Lima, Joe Berardo ou quintinha do Cavaco nem o resort do Dias Loureiro em Cabo Verde.  10 funcionárias de serviço, só para mim, 24 horas por dia , 7 dias por semana. Tudo  o que peço, e se peço coisas!  aparecem num segundo. Nas primeiras horas pensei que aquilo era uma cambada de bruxos no melhor sentido do termo.  Seja o cocktail mais sofisticado ao mais ainda sofisticado almoço… são trocos. Peço um vinho do Alentejo, tinto de 1925 e eis a garrafa cheia de pó, ser aberta à minha frente. Peço o que pedir, tudo aparece. Televisões, digo plasmas de metros,  enchem-me as divisões da Suite com letra grande. Vejo naturalmente as Tvs de Portugal. Tenho  todas as manhãs os diários que se publicam em Portugal e aos fins de semana até o Expresso cá está. O  “I” e o Público também. O Correio da Manha não leio por razões  confidenciais.
Como não falo inglês o Heinrich Morio , o tal gerente, arranjou-me uma japonesa que fala 10 línguas e que me traduz tudo o que por ali aparece.
Do andar em que me encontro vislumbro uma paisagem que ,só os deuses ou afortunados como eu, podem  disfrutar. Não se abrem as janelas mas o ar condicionado vem do mar o que para mim, desde que deixei de poder ir à praia de Melides, me abre o apetite  vorazmente. Tenho fome e a um estalar de dedos vejo na minha mesa de almoço os mais variados pitéus. Começo a ficar farto da caviar, sushis, açorda alentejana que também têm, mas enfim. Com um vinho da Vidigueira, deitei fora o Champagne, refastelei-me. Fiquei com a impressão que a Ah Aghui, uma mocinha asiática, era a mais medrosa porque, embora falasse bem português, falava género Jorge Jesus, o que a deixava envergonhada. Mas como eu não sou do Benfica até dava para rir.
Ah! Esqueci um pormenor . Antes do almoço deram-me umas massagens tailandesas (?) a meu pedido. Correu tudo bem e bem refastelado cumpriram os tais dez minutos que eu, anteriormente tinha marcado no meu Rolex de ouro e diamantes, comprado em Hong-Kong mas verdadeiro. Na China não são todos aldrabões !
No fundo sinto-me feliz porque ser-se rico  é um estado de alma que nem a imaginação do ex-ministro Gaspar conseguiria “urçamentar”.É um estado diferente, que querem ? Bom!
Em outros tempos, quando passava fome, via no facebook uns chouriços alentejanos, uns queijinhos  do meu país, uns pãezinhos saídos do forno e engolia em seco. Aqui, com estes acepipes todos até me dá para arrotar, passe o termo, mas muito baixinho.
Deito-me num sofá especial para leitura e ver televisão. A um estalar de dedos vejo a  TVI de Portugal. A barraca dançante da nova ministra das finanças, o Portas a bater com a porta, e ri enquanto acendia o meu Havano. À teimosia no 1º Ministro Coelho brindei com um conhaque francês. Ainda esperei, antes da soneca, que o Presidente Cavaco viesse a lume mas nada. Se calhar está de férias!
 Estava a esquecer-me o que vi ontem na Assembleia com malta de costas viradas para os deputados, cantando a Vila Morena e serem evacuados pela senhora Presidente da dita. Será que ela queria ouvir o Toni Carreira ? Não nos passa pela cabeça – nem temos nada com isso, é certo!
Tambem vi o António Seguro – muito pouco seguro (é verdade: quando é que o homem sai para entrar o António Costa ? ) e não lhe passei cartucho. Quero lá saber do Seguro. Agora que estou na maior quero é a boa vida que levo. Quero lá saber se a mãe do engº Sócrates tem uma casa de ricos como eu, que o Dias Loureiro, o Duarte Lima e outros iguais tenham roubado ou não o BPN ! Nada me interessa a não ser a continuação desta minha estadia no Paraíso (fiscal tambem, que eu sei). E até me lembrei duma máxima do Carlos Graça, meu sobrinho, quando falavamos  que o dinheiro chama dinheiro e ele me responde: tio, as águas dos rios correm todas para o mar que é onde há mais água”|.  Divagações.
Indiferente, como rico que sou, à fome que varre os  portugueses, às manifestações, greves,  dança de cadeiras no poder, a sagacidade de todos os políticos, ao Pic-Nic do Terreiro da Paço com agricultores e povão com Toni Carreira a encher  a praça (600 mil disseram – o que é mentira porque o Terreiro do Paço só leva, no máximo 300 mil!) estive mais interessado em ver o Pig Broghter (é assim que se escreve?) e o sorriso nervoso da tal miúda que, pelas minhas contas devia ser uma velha com, pelo menos 60 anos. E digo isto porque sempre ouvi dizer: -tu és mais conhecido que a Fany!  Enganaram-me sempre aí, em Portugal e até nas coisas mais mesquinhas.
-António levanta-te que já são horas e as Finanças abrem às 9. Ou se paga isto hoje ou vêm-nos buscar o computador.
-Estupor, que maneiras são essas de me incomodar ?
-Deixa-te de coisas, malandro! Vai tomar banho e põe-te a andar. Este homem !!!
Na mesinha de cabeceira o relógio marcava 8 horas. E não era o Rolex!

É sempre assim comigo. Nem sonhar posso! 

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