Não me perguntem nada, nem sequer como tive a sorte dos 5 números e 2
estrelas, acertadinhos sem concorrência!
Nem como vim aqui parar.
Estou no Burjal Arab Hotel às conveniências do
general manager Heinrich Morio. Um Hotel no Dubai, 7 estrelas. Suite módica de preço
1800 euros por dormida – 5 000 tudo incluído,diária. Para já não se compara às
casinhas do Duarte Lima, Joe Berardo ou quintinha do Cavaco nem o resort do
Dias Loureiro em Cabo Verde. 10
funcionárias de serviço, só para mim, 24 horas por dia , 7 dias por semana. Tudo o que peço, e se peço coisas! aparecem num segundo. Nas primeiras horas
pensei que aquilo era uma cambada de bruxos no melhor sentido do termo. Seja o cocktail mais sofisticado ao mais
ainda sofisticado almoço… são trocos. Peço um vinho do Alentejo, tinto de 1925
e eis a garrafa cheia de pó, ser aberta à minha frente. Peço o que pedir, tudo
aparece. Televisões, digo plasmas de metros,
enchem-me as divisões da Suite com letra grande. Vejo naturalmente as
Tvs de Portugal. Tenho todas as manhãs
os diários que se publicam em Portugal e aos fins de semana até o Expresso cá
está. O “I” e o Público também. O
Correio da Manha não leio por razões
confidenciais.
Como não falo inglês o Heinrich
Morio , o tal gerente, arranjou-me uma japonesa que fala 10 línguas e que me
traduz tudo o que por ali aparece.
Do andar em que me encontro
vislumbro uma paisagem que ,só os deuses ou afortunados como eu, podem disfrutar. Não se abrem as janelas mas o ar
condicionado vem do mar o que para mim, desde que deixei de poder ir à praia de
Melides, me abre o apetite vorazmente.
Tenho fome e a um estalar de dedos vejo na minha mesa de almoço os mais
variados pitéus. Começo a ficar farto da caviar, sushis, açorda alentejana que
também têm, mas enfim. Com um vinho da Vidigueira, deitei fora o Champagne,
refastelei-me. Fiquei com a impressão que a Ah Aghui, uma mocinha asiática, era
a mais medrosa porque, embora falasse bem português, falava género Jorge Jesus,
o que a deixava envergonhada. Mas como eu não sou do Benfica até dava para rir.
Ah! Esqueci um pormenor . Antes
do almoço deram-me umas massagens tailandesas (?) a meu pedido. Correu tudo bem
e bem refastelado cumpriram os tais dez minutos que eu, anteriormente tinha
marcado no meu Rolex de ouro e diamantes, comprado em Hong-Kong mas verdadeiro.
Na China não são todos aldrabões !
No fundo sinto-me feliz porque
ser-se rico é um estado de alma que nem
a imaginação do ex-ministro Gaspar conseguiria “urçamentar”.É um estado diferente,
que querem ? Bom!
Em outros tempos, quando passava
fome, via no facebook uns chouriços alentejanos, uns queijinhos do meu país, uns pãezinhos saídos do forno e
engolia em seco. Aqui, com estes acepipes todos até me dá para arrotar, passe o
termo, mas muito baixinho.
Deito-me num sofá especial para
leitura e ver televisão. A um estalar de dedos vejo a TVI de Portugal. A barraca dançante da nova
ministra das finanças, o Portas a bater com a porta, e ri enquanto acendia o
meu Havano. À teimosia no 1º Ministro Coelho brindei com um conhaque francês.
Ainda esperei, antes da soneca, que o Presidente Cavaco viesse a lume mas nada.
Se calhar está de férias!
Estava a esquecer-me o que vi ontem na
Assembleia com malta de costas viradas para os deputados, cantando a Vila
Morena e serem evacuados pela senhora Presidente da dita. Será que ela queria
ouvir o Toni Carreira ? Não nos passa pela cabeça – nem temos nada com isso, é
certo!
Tambem vi o António Seguro –
muito pouco seguro (é verdade: quando é que o homem sai para entrar o António
Costa ? ) e não lhe passei cartucho. Quero lá saber do Seguro. Agora que estou
na maior quero é a boa vida que levo. Quero lá saber se a mãe do engº Sócrates
tem uma casa de ricos como eu, que o Dias Loureiro, o Duarte Lima e outros
iguais tenham roubado ou não o BPN ! Nada me interessa a não ser a continuação
desta minha estadia no Paraíso (fiscal tambem, que eu sei). E até me lembrei
duma máxima do Carlos Graça, meu sobrinho, quando falavamos que o dinheiro chama dinheiro e ele me
responde: tio, as águas dos rios correm todas para o mar que é onde há mais
água”|. Divagações.
Indiferente, como rico que sou,
à fome que varre os portugueses, às manifestações,
greves, dança de cadeiras no poder, a sagacidade
de todos os políticos, ao Pic-Nic do Terreiro da Paço com agricultores e povão
com Toni Carreira a encher a praça (600
mil disseram – o que é mentira porque o Terreiro do Paço só leva, no máximo 300
mil!) estive mais interessado em ver o Pig Broghter (é assim que se escreve?) e
o sorriso nervoso da tal miúda que, pelas minhas contas devia ser uma velha
com, pelo menos 60 anos. E digo isto porque sempre ouvi dizer: -tu és mais
conhecido que a Fany! Enganaram-me
sempre aí, em Portugal e até nas coisas mais mesquinhas.
-António levanta-te que já são
horas e as Finanças abrem às 9. Ou se paga isto hoje ou vêm-nos buscar o
computador.
-Estupor, que maneiras são essas
de me incomodar ?
-Deixa-te de coisas, malandro!
Vai tomar banho e põe-te a andar. Este homem !!!
Na mesinha de cabeceira o
relógio marcava 8 horas. E não era o Rolex!
É sempre assim comigo. Nem
sonhar posso!
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